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quinta-feira, 11 de junho de 2009

Estamos nos distraindo no quesito educação? ( artigo meu publicado no Globo On Line)

Estamos nos distraindo no quesito educação?


Publicada em 28/04/2008 às 13h30m no GLOBO ON LINE.

Por Cristiane da Silva -

Não sei se apenas guardo a inocência de uma época que julgava boa ou se de fato há alguma coisa fora de órbita na época atual. O mundo parece perdido e eu não sei se o "Alguém" que joga xadrez lá em cima ainda consegue acreditar que o ser humano possa mudar o rumo da história.

" Quais os valores que faltam às nossas crianças para que não se tornem adultos que queimam índios, espancam prostitutas, matam pais e avós, arremessam filhos janelas abaixo? "

Lembro-me quando ouvia dizer: "Cuidado com os estranhos, eles podem lhe fazer mal...". Fomos assustados com os "bichos papões", ora para conter mal-criações, ora para nos fazer ter medo dos estranhos. Não sei o que os pais hoje em dia dizem aos seus filhos, afinal, o bicho papão pode estar bem dentro da própria família. Pode ser aquele velho conhecido que em algum momento deixa a sua máscara cair e se torna "O estranho".
Não trato aqui de não acreditar mais nas transformações por um lugar onde haja mais paz, mas trago questionamentos que demonstram o choque em função dos rumos para os quais a humanidade segue, para as bizarrices que nos chegam diariamente pela imprensa. Quais os valores que faltam às nossas crianças para que não se tornem adultos que queimam índios, espancam prostitutas, matam pais e avós, arremessam filhos janelas abaixo? Onde estamos deixando falhas na educação de nossas crianças e adolescentes? Quais são as bases que nos faltam para criarmos pessoas humanamente mais equilibradas e responsáveis? Estamos distraídos ou não mais acreditamos em nossa competência de educar?
A falta de limites tem feito vítimas em diferentes âmbitos: pessoas cada vez mais novas fumam, cheiram, bebem até não poder mais, dirigem sem habilitação, entram em confusões e acidentes no trânsito, discriminam, matam, morrem. Não mais podemos continuar teimando em maquiar os "nãos" de verde, fazendo com que sejam entendidos como "sins". Não mais podemos deixar que as malditas compensações estejam governando nossas atitudes enquanto educadores (pais, mães, professores, responsáveis).
Incansavelmente, insisto em dizer que a educação é a mola de muitas transformações. Mas a família vem, erradamente, delegando o compromisso de educar à escola. Ao invés de caminhar junto, educando em valores humanos, a família está se isentando de responsabilidades que lhe cabem. E para a escola sobram as tarefas acumuladas (e que já não damos conta) de educar não só quanto ao ensino formal, mas também quanto ao educar para a vida. Mas não podemos (e nem temos estrutura para tal) assumir a responsabilidade da formação ética, que é, em primeiríssimo lugar, da família. A escola apenas será colaboradora neste processo, mas nunca poderá substituir os pais. Responsabilidade não se delega!

" Ninguém pode respeitar seus semelhantes se não aprender quais são os seus limites, incluindo aqui a compreensão de que nem sempre podemos fazer tudo o que desejamos na vida "

Do jeito que estamos, os mecanismos de socialização estão falhando e muitos dos aprendizes não estão internalizando as regras do jogo social, se tornando desviantes. O controle quanto ao comportamento, que busca levar o indivíduo a aceitar voluntariamente as regras, instruindo-o no conhecimento que o tornará um cidadão útil, está frouxo. Prova disso são as manchetes de jornais e as matérias televisivas, que a cada dia nos chocam mais. Ninguém pode respeitar seus semelhantes se não aprender quais são os seus limites, incluindo aqui a compreensão de que nem sempre podemos fazer tudo o que desejamos na vida.
Educar é um processo bastante complexo, que requer paciência e repetições. Não temos receitas prontas, mas certamente sabemos o que não queremos formar. E não queremos formar seres que agridem, que marginalizam e se tornam marginais. Dar limites não é o oposto de dar carinho, amor, segurança e atenção. Dar limites é, isto sim, preparar para uma linguagem de convívio social, ensinando (aprendendo e reaprendendo) sobre ética, cidadania, paz, amor, respeito, honestidade.
Ah, sei que vale a pena dizer que, além da questão da educação, há a idéia do "religare", a idéia de que estamos esquecendo de nos amar, de nos unir. Amar num sentido que nos faça, de fato, assumir compromisso com o futuro e a responsabilidade de deixarmos um mundo melhor para aqueles que virão. Que haja gente num futuro próximo. Não a sensação de mundo recheado de "coisas". De "coisa" o mundo já está cheio. Precisamos é de gente que seja mais gente, consciente de que os valores de hoje serão fundamentais para as transformações do amanhã. O futuro fazemos hoje. Não podemos nos distrair!
Cristiane Silva é pedagoga e arteterapeuta.

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