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quinta-feira, 25 de março de 2010

Divulgando lançamento do livro do amigo Henrique Rodrigues - Como se não houvesse amanhã.


Sábado - 27 de março, no Cinematheque, lançamento do livro COMO SE NÃO HOUVESSE AMANHÃ, organizado por Henrique Rodrigues.

Essa matéria foi publicada hoje, no jornal O GLOBO.

Livro reúne 20 contos inspirados em canções da Legião Urbana
Plantão | Publicada em 25/03/2010 às 09h00m
Leonardo Lichote

RIO - Um bando de garotos de 11, 12 anos, no pátio da escola, num dia qualquer de 1987, lendo alto a letra de "Faroeste caboclo" numa folha mimeografada, repetindo os versos até decorá-los. O escritor Henrique Rodrigues era um deles e descreve a cena ao falar da gênese de sua paixão pelas canções da Legião Urbana - obra à qual ele presta tributo ao assinar a organização e um dos contos da antologia "Como se não houvesse amanhã - 20 contos inspirados em músicas da Legião Urbana" (Record). O lançamento - com direito a karaokê da Legião - será no Cinematheque, no sábado, dia do aniversário de Renato Russo.

A roda de estudantes descrita por Henrique era maior do que parecia - espalhados pelo Brasil, mais meninos e meninas, entre eles os outros 19 autores do livro, passaram por experiências semelhantes com os versos de Renato Russo (na escola, na vitrola de casa, no walkman pela rua):
- A condição sine qua non para participar do livro era ser fã da Legião - conta Rodrigues. - Queria um livro apaixonado.

Não foi difícil conseguir reunir apaixonados pela Legião. Depois de ter a ideia de escrever um conto inspirado na canção "Acrilic on canvas", que ouvia no carro, comentou com uns amigos e percebeu que o desejo de se basear em versos de Russo era comum a seus amigos. Formatou a ideia do livro e passou-a à editora, que gostou.

- Pensei o livro para ter 12 contos, brincando com o número de músicas de um disco. Mas os autores foram chegando e acabei fechando com 20 histórias - conta Rodrigues. - Há autores mais conhecidos, como João Anzanello Carrascoza e Miguel Sanches Neto, ao lado de outros que nunca publicaram, como Rosana Caiado Ferreira.

Rodrigues não tem o costume de ouvir música, e até prefere o silêncio na maior parte das vezes. Mas diz escutar Legião Urbana diariamente desde os 10 anos - ele tem 34. Ao explicar a aparente contradição, ele lança possíveis pistas para se entender como as canções da banda ganharam a representatividade que têm:

- A Legião toca num imaginário muito íntimo da minha vida. Meu pai, que já faleceu, era separado da minha mãe e brincava quando saía comigo, cantando "Eu moro com a minha mãe/ Mas meu pai vem me visitar" (de "Pais e filhos"). Coisas assim acontecem com toda uma geração. São canções que atacam em três frentes: a indignação político-social, a relação com os pais e os caminhos e descaminhos do amor. Depois daquela atração inicial, no início da adolescência, fui amadurecendo, e as canções foram amadurecendo comigo, fui vendo que elas tinham novas leituras.

Na visão do organizador Henrique Rodrigues, o lirismo de Russo contribui para a permanência de sua obra:

- A banda surgiu numa circunstância muito datada, de fim da ditadura, Brasília. Mas já no primeiro disco ele costurava isso com algo mais subjetivo, em canções como "Será" e "Por enquanto". Em "Vamos fazer um filme" aparece a síntese desses dois lados: "O sistema é 'maus'/ Mas minha turma é legal" - aponta. - Conforme foi amadurecendo, suas letras foram ficando mais líricas, e o texto lírico é atemporal. O título do livro, "Como se não houvesse amanhã", traz a essência dessa atemporalidade. Penso Renato como um poeta da fase ultrarromântica, seu trabalho tem algo do "Mal do Século". Uma angústia diante do inevitável, da morte, da separação.

Os contos do livro - batizados com os nomes das canções correspondentes - refletem essas angústias. A maioria deles é densa, triste, tratando de separações e dores (a do crescimento, sobretudo). Mesmo a história de amor do rockinho "Eduardo e Mônica" é relida pelo seu reverso: a separação do casal. Todos os discos da banda estão representados, e os contos entram na ordem em que as músicas foram lançadas. O primeiro é "Será", de Daniela Santi, e o último é "Sagrado coração", de Maurício de Almeida.

- Renato não gravou esta. Ela aparece no álbum póstumo "Uma outra estação" apenas com a melodia e com a letra no encarte - nota o organizador.

Para Rodrigues, a presença de Russo faz falta:

- A música pop hoje é bem rala se comparada, por exemplo, à Legião. Em "Monte Castelo", Renato pôs garotos para cantar Camões e a Bíblia. Pela canção, ele conseguia lançar o extraordinário no ordinário do cotidiano.





Parabéns, Henrique, você merece muito sucesso!!!

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