SÉRIE PEDAGOGOS - REBECA CARVALHO
DISGRAFIA
Apesar de toda a tecnologia, escrever ainda é uma das funções mais privilegiadas na vida do ser humano, uma vez que é através dessa atividade que se registram fatos, se expressam e se trocam ideias e informações com outras pessoas. De acordo com o crescimento da criança, não somente em estatura, mas também no aspecto intelectual, afetivo, motor, é bem possível que ela inicie seu processo de aquisição da escrita tão logo as pessoas que a cercam comecem a apresentar-lhe conteúdos. Porém alguns cuidados são de extrema importância e um deles é saber se é tempo de esta criança avançar mais para esta nova etapa.
Na escola convencional, por exemplo, existe um currículo a ser seguido em que as crianças, em sua maioria, precisam aprender mais rápido do que o seu desenvolvimento permite. Todavia, sabemos que, para que haja a execução motora da escrita, o Sistema Nervoso Central (responsável pelo armazenamento, elaboração e processamento da informação resultante da resposta apropriada do organismo) e o Periférico (responsável pelos receptores sensoriais, que são canais principais para aprendizagem simbólica), além de um determinado grau de desenvolvimento psicomotor, necessitam ter passado pro um certo amadurecimento, uma vez que a coordenação e a força dos movimentos precisam estar firmes e com equilíbrio para proporcionar facilmente a atividade das mãos e dos dedos. Esse processo motor vai se desenvolvendo e se aprimorando de acordo com o progresso no ambiente escolar.
Entretanto, em muitos casos, esta criança não está emocionalmente, cognitivamente, motoramente preparada e, no caso de ser uma criança digráfica - por não estar pronta para iniciar a aquisição do grafismo, da escrita -, certamente apresentará dificuldades nesse processo, o que pode trazer uma série de consequências negativas, no momento em que ela perceber que não consegue fazer o que os colegas fazem, e que é proposto pelo professor. Essa relação, em muitos casos, pode se tornar algo doloroso,constrangedor, e até ser causa de "bulling".
São inúmeras as dificuldades existentens no processo de aprendizagem da escrita, e o professor precisa estar atento aos sinais que seus alunos emitem de que algo não anda bem.
A ESCRITA
Podemos definir a escrita como uma representação da língua falada através de caracteres e/ou signos gráficos. Mas, para que isso ocorra, braços, mãos, dedos, entre outras partes da mente, através de delicados e finos gestos, se esforçam para fazer um bom trabalho, uma vez que o ato de juntar esses signos, ou seja, escrever, não pertence ao ser desde o seu nascimento. Este ato é resultante de um processo de vagarosas e importantes conquistas nos planos simbólicos, motor e perceptivo da criança.
Uma das grandes exigências da escrita, para quem a pratica, é a disposição do espaço gráfico, obedecendo a regras de utilização, onde o que se escreve deve apresentar um visual no qual as letras estejam de acordo umas com as outras, sendo encaixadas corretamente nas palavras e consequentemente havendo um controle de ajuste para que fiquem alinhadas onde se quer escrever.
Quando o aluno não consegue realizar cópias ou montar uma sequência de letras em palavras fáceis ou comuns ao seu vocabulário, o professor deve ficar atento, pois pode estar diante de um transtorno da expressão escrita, que é mais conhecido como disgrafia.
Isto significa que a habilidade escrita está abaixo do nível idealizado pela idade cronológica, escolaridade e inteligência, podendo ou não estar associada a outros transtornos de aprendizagem, como a discalculia ou de leitura, comprometendo assim a ortografia e a caligrafia. Em muitos casos - com suas exceções-, as crianças com disgrafia apresentam também a disortografia, na qual as letras são amontoadas para esconder os erros ortográficos.
Conhecida também por letra feia, a disgrafia tem muitos motivos aparentes e um deles é o fato de a criança não conseguir se lembrar da figura que aquela letra representa e, ao fazer o esforço para se lembrar como se faz o grafismo, escreve vagarosamente, o que faz com que a união das letras aconteça de forma inapropriada, tornando-as ilegíveis.
Segundo Ajuriaguerra (1988)a escrita é uma tarefa que se sujeita às necessidades direcionadas pela estrutura espacial, uma vez que a criança deve produzir sinais, palavras e frases, vertendo a escrita em uma atividade espaço-temporal. O que significa que a disgrafia não está relacionada a nenhuma alteração intelectual, ou sequer a problemas de ordem cerebral, pois o que dificulta a transmissão de informações visuais ao sistema motor é a complexidade de integrar o visual ao motor.
Embora não haja muitos estudos sobre o tema, alguns pesquisadores, como Rourke, afirmam que a disgrafia existe em três subitens diferentes que, segundo Ciasca, Capellini e Tonelotto (2003), são:
1- Disgrafia baseada na linguaguem: consiste na dificuldade para construir corretamente a palavra citada. Para escrever é necessário que se estabeleça a relação fonema-grafema, e quando isto não ocorre se estabelecem erros de ortografia, que são mais frequentes em grafemas ambíguos ou pouco diferenciados, que impõem uma maior dificuldade para sua discriminação.
2- Disgrafia de execução motora: referente à capacidade de precisão motora para a escrita. Portanto este tipo de disgrafia está relacionado a um problema puramente motor, práxico, e não está ligado diretamente ao comprometimento da leitura.
3- Disgrafia visuoespacial: está relacionada com uma baixa capacidade visuoespacial. É uma dificuldade de distribuir a escrita no espaço gráfico e realizar a correta separação das palavras.
Os sinais de uma criança disgráfica são: texto desordenado e sem unidade, lentidão na hora de escrever, letra ilegível, má organização da página, letras engarranchadas e deformadas, traços sem regularidades, ou muito fortes ou muito fracos que nem chegam a marcar a folha de papel, desorganização do texto sem respeitar as margens, letras retocadas, atrofiadas, omissão de letras e até mesmo de palavras, movimentos contrários à escrita, letra corrigida várias vezes, desenhos pobres em detalhes, distorcidos com traços irregulares, ritmo de escrito muito rápido ou muito lento, problemas para amarrar os sapatos, martelar, fazer mímica, ou seja, dificuldades de imitar o que vê, inclinação da folha de papel em excesso etc.
Vale ressaltar que, para se avaliar se uma criança possui ou não disgrafia, é necessário um conjunto de fatores em evidência, além é claro de uma avaliação feita pelo profissional que está em contato com a criança. Esse procedimento é realizado por algumas estapas até que se constate o diagnóstico final.
Além de testes que podem ser aplicados, há também uma avaliação psicomotora, uma vez que o corpo é a base indireta da escrita. Isto significa que, se a criança não é capaz de controlar seus movimentos e não tem equilíbrio, planejamento, percepção corporal, entre outros fatores que são imprescindíveis à psicomotricidade da criança, ela terá dificuldade em coordenar os movimentos próprios para traçar as letras e formar a escrita.
O dignóstico é feito também através da investigação de outros fatores que envolvem a criança, e que podem estar relacionados aos fracassos caligráficos. São avaliados três aspectos: personalidade, intelectual e sondagem pedagógica.
Em sala de aula, o professor pode contribuir para a melhora deste aluno promovendo uma reeducação do grafismo, através do desenvolvimento psicomotor, trabalhando itens como postura, controle corporal, dissociação dos movimentos, lateralização, ooordenação viso-motor, perpcepção espaço-temporal, entre outros.
O segundo passo é trabalhar o grafismo em si. Com isso, vai ocorrer uma melhora nas habilidades da escrita, através de atividades que envolvam técnicas de pintura, modelagem e desenhos, além do trabalho com atividades escriptográficas, no qual se oferece um lápis e um papel para a criança sentada ao chão e delimita-se um espaço gráfico no próprio papel para que seja realizada a tarefa.
E, finalizando, o terceiro passo é fazer a correção propriamente dita dos erros gráficos, o que inclui tamanhos de ltras, margens, altos e baixos, inclinação da folha e das letras, manutenção da linha, o aspecto do texto em si e tantos mais que o profissional achar pertinentes.
Fonte: Jornal Appai - Educar - ano 12 - no 64 - 2010.
Que pena não poder trocar experiencias diariamente...saudades amiga!!! O blog é a solução p/ as colegas de trabalho q assim como eu não te veem todos os dias. Continue compartilhando e nós continuaremos borboletando!!!Beijos
ResponderExcluirMárcia Magalhães
Oi amiga. Saudades também. O importante nisso tudo é o fato de estarmos ligadas pelo coração. Um beijo grande. Continue borboletando, pois nisso eu sinto um grande prazer, e assim, continuo postando.
ResponderExcluirAdooooro você!!!
Que bom ao borboletar logo ao amanhecer de um domingo e encontrar na internet uma colocação de conhecimento sobre disgrafia de forma tão agradável de ver e ler.
ResponderExcluirQue seus dias continuem sendo iluminados, pois, o conhecimento, só se torna importante se é compartilhado, sendo assim fonte de crescimento de ambas as partes.
Iza.