Por Rebeca Caravalho - Série Pedagogos ( Jornal Educar)
Emília Beatriz Maria Ferreiro Schiavi nasceu na Argentina, em 1937. Formou-se em Psicologia pela Universidade de Buenos Aires, no ano de 1970, época em que também estudou na Universidade de Genebra e trabalhou com o epistemólogo Jean Piaget.
Deois anos mais tarde, volta para Buenos Aires, onde forma um grupo para discutir e pesquisar temas sobre alfabetização. Este grupo era constituído por Ana Teberosky, Ana Maria Kaufmam, Liliana Tolchinsky, entre outras pessoas que também eram especialistas ou pesquisavam o assunto.
Exilada após um golpe de estado na Argentina, seguiu para a Suíça, onde passa a ministrar aulas na Universidade de Genebra, onde tem oportunidade, juntamente com Margarita Gómez Palacio, de elaborar uma pesquisa com crianças portadoras de dificuldades de aprendizagem.
Em 1979, vai com seu esposo Rolando Garcia para o México e, com a co-autoria de Ana Teberosky, publica o livro Los sistemas de escritura en el desarrollo del niño. Nos anos seguintes lança vários outros livros: Nuevas perspectivas sobre los processos de lectura y escritura, Processos de alfabetización en processo. Los sistemas de escritura en el desarrollo del niño é traduzido para o Brasil como Psicogênese da língua escrita.
Recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Buenos Aires no ano de 1992 e, dois anos mais tarde, lhe é conferida a medalha de "Libertador da Humanidade", pela Assembleia Legislativa da Bahia. Esta deferência ja tinha sido entregue ao educador Paulo Freire e ao líder sul-africano Nelson Mandela. Um ano depois, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro a homenageia, entregando-lhe o títudo de Doutor Honoris Causa.
Emília Ferreiro reside atualmente no México, onde desenvolve seua trabalhos de pesquisa no Departamento de Investigações Educativas ( DIE). Além disso, ministra palestras e conferências por todo o mundo.
Ao escutarmos a palavra "alfabetização", automaticamente remetemos o nosso pensamento à psicóloga Emília Ferreiro. Entretanto, ao contrário do que muitos pensam, ela não desenvolveu um método de ensino para alfabetização. Sua pesquisa baseava-se em como ocorrem as construções e o desenvolvimento da linguagem escrita na criança.
Através das investigações da psicóloga juntamente com seus colaboradores, pode-se perceber que a questão principal da alfabetização inicial consiste numa natureza conceitual e não perceptual. As pesquisas mostram também que a aprendizagem não ocorre somente no âmbito escolar, no qual os alunos só aprendem o que os professores ensinam.
Nesta perspectiva, o primeiro professor qua a criança tiver deve ensinar as letras e os sons da sílaba. Após a criança memorizar, estaria apta a ler e a escrever. Entretanto, se por algum motivo o professor ensinasse e a criança não conseguisse aprender a ler a escrever, deveria ser encaminhada a um psicopedagogo, ao psicólogo ou a um tratamento clínico. Contudo, essas ideias perdem sua validade a partir do momento em que a pesquisa apontou que as crianças têm noção da escrita, ainda antes de entrarem para a escola. Elas formulam e constroem hipóteses sobre o conhecimento, antes mesmo de iniciar a aprendizagem em seu processo formal ( leitura e escrita). Para Ferreiro, o aluno é o maior agente nesse processo de aprendizagem, uma vez que é capaz, como dito acima, de construir hipóteses, além de interagir e interpretar o mundo.
Emília Ferreiro determinou a sequência de etapas, ou seja, para que aconteça algo, anteriormente a criança já deve ter passado por alguma outra etapa. Esses estágios são mediadores da estrutura mental que interagem no aspecto do desenvolvimento motor, intelectual e no desenvolvimento afetivo.
A cada avanço de etapa que o aluno alcançava, os "erros" eram valorizados como "erros construtivistas", pois o professor ia analisar de forma lógica por que as crianças estavam dando as respostas "erradas" para alguns problemas. Os estágios eram divididos em três: pré-silábico, silábico e alfabético.
Pré-silábico -
Logo depois que a criança faz a diferenciação entre o iônico e o não-iônico, começa a pedir os eixos qualitativos e quantitativos para que consiga ler e escrever, pois percebe que, para se escrever, são necessárias formas além do desenho. Após esta etapa, ela começa a exigir o conhecimento de outras letras, pois já não aceita a repetição delas, além de colocar sempre um número mínimo de letras para construir uma palavra, pois assim consegue relacionar o que escreve com o som da palavra que ela determina para qualquer objeto.
Silábico -
Neste estágio começa a haver uma relação significante entre o que se escreve e o que se lê. Tem início a fonetização. Cada sílaba oral representa uma letra na escrita, independentemente de ter ou não valor convencional.
Alfabético -
Agora as representações gráficas passam a ocorrer através dos fonemas das palavras e não por sílabas orais. No estágio anterior, a criança relacionava cada sílaba com uma letra apenas, mas neste momento ela percebe que uma sílaba pode ser constituída por uma, duas ou até três sílabas, procurando, entretanto, ser fiel a escrever as palavras conforme os sons que escuta.
As pesquisas de Emília Ferreiro são vastas, tanto quanto as suas obras. Falar desta estudiosa e de suas ideias em tão pequeno espaço nos limita a privilegiarmos apenas uma ou outra de suas teorias. Para se aprofundar em todo o conteúdo desta brilhante educadora, se faz necessário que o leitor busque textos complementares.
Fontes:
CARVALHO, Rebeca. Um Encontro com Grandes Educadores. Vol. 1, Rio de Janeiro: Cháris Editora, 2007.
FERREIRO, Emília. Reflexões sobre alfabetização. São Paulo: Ed. Cortez, 1986.
________. Alfabetização em processo. São Paulo: Ed. Cortez, 1989.
________ & TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986.
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