Comportamento
'Bons costumes para quem?'
Publicada em 10/11/2009 às 13h04m
Artigo da leitora Cristiane da Silva
Desde o dia 22 de novembro vem fazendo parte de nossas notícias o caso da estudante de Turismo Geisy Villa Nova Arruda, de 20 anos, transformando-se inclusive em assunto internacional. Constrangimento e indignação provavelmente marcaram presença nos sentimentos de muitos que ainda se preocupam em não justificar os medonhos atos de uma camada que ainda insiste em fazer valer suas próprias leis, ditando o que é "certo" e o que é "errado".
Por causa de um vestido que a estudante usava, ela foi hostilizada pelos colegas da Universidade Bandeirante (Uniban-SP), sofrendo constrangimentos morais e até precisando de escolta para sair do recinto. Além da atitude dos colegas, que por si só já é repugnante, impressiona a atitude da Uniban, que no último sábado decidiu desligar do quadro discente da instituição a pessoa que em "razão do flagrante desrespeito aos princípios éticos, à dignidade acadêmica e à moralidade" frequentava as dependências da unidade em trajes inadequados. Pela "atitude provocativa", os gestos e modos de se expressar, que buscavam chamar a atenção para si, a aluna foi "julgada" (e condenada!) pelos colegas e pela Instituição, que, é claro(!), só queriam defender o ambiente escolar.
No intuito de "defesa do ambiente escolar" e, provavelmente dos "bons costumes" (que eles pensam que têm), os "juízes" xingaram a estudante e a ameaçaram, provocando mais um dos alvoroços que muitas vezes ficam por aquilo mesmo, impunes e arquivados . São atitudes que crescem a cada dia nas mãos de pessoas que agem assim porque ainda justificam seus atos por terem o pai tal, o parente x, o amigo y.
Se em pleno século XXI essas atitudes bárbaras ainda fazem parte da nossa sociedade, precisamos saber (e com urgência!) aonde estamos falhando. Enquanto não se descobre, ou finge-se não saber, universidades seguem corroborando com as atitudes dos vândalos, que também saem por aí menosprezando gays, prostitutas, empregadas domésticas, garis e todos aqueles que julgam inferiores a eles.
Bons costumes e atitudes éticas, deveria repensar a Uniban, é o que está faltando para parte dos alunos que a frequentam, que ainda não souberam o que é respeitar o direito do outro. Bons costumes e atitudes éticas é o que está faltando para parte dos docentes da instituição, que na atitude tomada banalizam e estimulam a violência contra a mulher. Bons costumes e atitudes éticas é saber que é preciso sair da era da caverna para visitar espaços abertos ao diálogo e à construção de relações livres de opressões e preconceitos.
No mais, sem dar passos que procurem fugir dos falsos moralismos e das justificativas que apenas ratificam essas atitudes, continuaremos julgando o "diferente" sempre como "culpado". Culpado por sofrer numerosas discriminações porque é pobre, culpado por ser perseguido porque é gay, culpado por sofrer preconceitos porque é afrodescendente , culpado por ter sido assaltado, estuprado, violentado, enfim, culpado!
Bons costumes, isto sim, é o que está faltando ser ensinado para todos aqueles que insistem em permanecer na era dos trogloditas, que segue os séculos sem mudanças e transformações, trazendo na carcaça essa doença chamada discriminação.
Este artigo foi escrito por uma leitora do Globo.
Cristiane da Silva é pedagoga e arteterapeuta
arraza nemmm, linda reflexão!
ResponderExcluir