Escolhidas a dedo para você ouvir!

domingo, 28 de fevereiro de 2010

As mãos que afagam, muitas vezes são as que também machucam.




Rio de Janeiro, 27 de fevereiro de 2010.
1h 21min


Não vou querer me despir da dor que está em meu peito agora, nem do mar que chega a meus olhos no momento em que escrevo esse texto. São eles, além de minha indignação, que nortearão cada ponto e cada vírgula aqui presentes.
Já comentei que o professor tem que segurar muitos trancos no exercício de sua profissão. Muitas vezes somos nós, que mesmo em salas de aula lotadas, não conseguindo dar atenção decente para todos, percebemos o quanto a violência contra a criança ainda é algo assustador no Brasil. Contrariando o ECA, Estatuto da Criança e do Adolescente, que em tese levaria à criança o seu amparo total, o que se percebe é o crescimento da violência contra ela.
Certa vez, percebendo a mãozinha de um aluno meu com cicatriz de queimadura, perguntei-lhe o que havia acontecido. Na hora, percebi que ele desviou o olhar e, com pesar, disse que se queimara fazendo café. Guardei a fala dele para, num outro momento, trabalhar a questão da exploração infantil. Ainda que concorde que colocar as crianças para ajudarem na rotina do dia-a-dia com tarefas simples e não perigosas seja algo saudável, ensinando-lhes sobre cooperação, colocar uma criança de apenas 7 anos para fazer café é demais! Mas ao lembrar do momento em que lhe perguntei sobre o que havia acontecido, algo me intrigou naquele pesar presente nos olhos do menino. Fiquei de olho! Sempre solicitava a presença de algum responsável, mas passei um ano inteiro sem conhecer qualquer membro da família dele. Tentei entrar em contato por telefone, mas não obtive sucesso nas tentativas.
Como havia me apaixonado por essa turma, resolvi acompanhá-la por mais um ano. Eis que na primeira reunião escolar, apareceu a avó desse menino. Era a primeira vez que alguém responsável por ele aparecia na escola. Iniciei uma conversa agradecendo a presença dela ali e elogiando o menino, que era uma criança adorável e esforçava-se para superar todos os obstáculos, sendo um ótimo aluno. A avó pediu desculpas pela ausência, justificando que trabalhava demais e que estava em briga judicial com a sua filha, pela guarda dele. Considerando o fato estranho, demonstrei curiosidade pelo caso. Ouvi, estarrecida, a avó relatar que a filha dela, juntamente com o padastro do menino, haviam colocado a mão dele na chapa, o que provocou queimaduras gravíssimas. Como a avó só tomou conhecimento do caso horas depois, o menino demorou a receber atendimento. Não consegui ouvir tal história sem me emocionar. Então era esse o motivo daquele olhar perdido enquanto ele contava algo que talvez tenha sido induzido: que fora fazendo café que provocara a queimadura.
Fiquei pensando a respeito, tentando imaginar quantos casos de violência passam despercebidos pelo olhar do professor em sala de aula... Quantos dos nossos alunos não trazem em sua vivência as marcas de uma violência que nem sempre se faz física? ... Emocional ou corporal, o que cumpre sinalizar é que precisamos estar atentos aos sinais que as crianças nos trazem: estarem muito retraídas ou muito agitadas, não brincar, desconversar quando se pergunta algo sobre a família, tristeza contínua, enurese, baixo rendimento, desinteresse etc.
Uma vez que se observe casos de violência física, emocional e de abusos sexuais, é preciso chamar a família, fazer a anamnese e caso o problema persista, cabe a escola denunciar ao Conselho Tutelar, esperando que providências sejam tomadas.
Casos que são levados ao socorro emergencial, obrigatoriamente, devem ser denunciados pelos médicos, aos organismos responsáveis pela proteção adequada do menor. Os médicos devem informar às famílias diretamente sobre a denúncia que será feita, explicando que se trata de um esforço para esclarecer a situação e obter ajuda para a criança e sua família.
O abuso físico é, geralmente, repetitivo e sua severidade tende a aumentar a cada nova investida. Qualquer lesão suspeita deve ser adequadamente investigada, considerando-se a incerteza quanto à possibilidade de acontecer uma nova chance de intervenção, além da prevenção contra consequências mais graves.
O local mais acometido pelos maus-tratos no corpo da criança e do adolescente é a pele. Tipos de lesão incluem desde vermelhidão, equimoses ou hematomas até queimaduras de 3º grau. É comum haver marcas do instrumento utilizado para espancar crianças ou adolescentes: elas podem apresentar forma de vara, de fios, de cinto ou até mesmo da mão do agressor.
Um outro dado que merece nossa atenção é saber que a violência contra a criança está presente em todas as camadas sociais, e não somente, como equivocadamente pensam alguns, nas classes menos favorecidas.
O assunto nos abre um leque de possibilidades de discussões, mas por agora, deixo um pedido aos colegas de profissão: estejam atentos! Muitas vezes, ficamos receosos de tomar atitudes que possam prejudicar ainda mais a criança, tal como a retirada de seus lares e a ida para abrigos, o que provocará mais danos ao seu já fragilizado sistema emocional. Mas não podemos nos esquecer que precisamos ter um olhar e uma escuta muito sensíveis para essas crianças, o que já é uma intervenção.

Art. 18 do Estatuto da Criança e do Adolescente - É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor. (…)


“A palavra progresso não terá qualquer sentido enquanto houver crianças infelizes”.
(Albert Einstein)



Puxão de cabelo, com possibilidade de trauma no couro cabeludo.




Síndrome da criança sacudida (Shaken Baby Syndrome), com possibidades de hemorragias intra-cranianas.




Criança amarrada e amordaçada.



Criança com marcas de cordas amarradas no pulso.




As queimaduras por cigarro são geralmente feitas nas palmas das mãos, solas dos pés e nádegas. Queimaduras em vários estágios de evolução indicam abusos frequentes.



As queimaduras por utensílios domésticos aquecidos como garfos, facas, colheres são frequentes. Na ilustração, queimadura típica por ferro elétrico.



A cabeça é das regiões do corpo uma das que mais sofre agressões.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

De Clarice Lispector, Mudança

"Veja o mundo de outras perspectivas :: Ame a novidade :: Tente o novo cada dia :: Busque novos amigos :: Tente novos amores :: Faça novas relações :: Só o que está morto não muda! :: Repito por pura alegria de viver: a salvação é pelo risco :: sem o qual a vida não vale a pena!!!"

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Atividades de Vivamática.

Olá galerinha. Estou postando umas atividades que preparei para divertir as aulas de Matemática, que eu aprendi a chamar de Vivamática. Quem ensinou??? Ziraldooooooo!

Ah, eu faço montagem de duas atividades de uma mesma matriz na folhinha, pois ao recortar, fica tudo ajeitadinho no caderno dos pequenos.




domingo, 21 de fevereiro de 2010

Diário de uma professora. É para rir ou chorar?

Segue um textinho escrito depois de um dia de muito trabalho e algumas fotos do que para nós ficou marcado como verdadeira união de equipe.

Rio de Janeiro, 10 de fevereiro de 2010.
Por volta das 18h

Diário de uma professora. É para rir ou chorar?

Hoje foi o primeiro dia de experimentação do trajeto Nova Iguaçu/Jacarepaguá no tal famoso horário do rush. Depois de um dia em que também experimentei novidades, como raspar e pintar paredes de salas de aula (coisa boa para aprender a valorizar ainda mais o trabalho dos pedreiros e pintores), de em função disso estar com certo desconforto lombar, de passar calor num daqueles dias onde o Rio de Janeiro parece estar inteirinho dentro de uma estufa, saí da escola municipal às 17h para baldear em três conduções: uma van, o trem e o ônibus.
Eu queria aquecer a cabeça de quem me enganou dizendo que existe um tal de “contra-fluxo”, que nesse horário o trem é tranquilo... Peguei o trem mais ou menos às 17h 30min, e posso dizer que parecia o inferno. Aquele inferno que as pessoas nos contam e que a gente cresce acreditando: onde tudo parece fumegar. Eu, que procuro ser gentil com as pessoas, sempre me dou mal... É um empurra, empurra que dá até medo. Passado o susto de ficar do lado de fora, é hora de aturar a inhaca dos trabalhadores, depois de um dia inteiro de luta, se espalhando pelos vagões. Além disso, é hora de preparar os ouvidos, pois os camaradas que querem garantir o dindim do dia, passam gritando os seus pregões, vendendo até a mãe. E eles fazem isso bem nos nossos ouvidos.
Sentar? Ih, esquece! Isso é artigo de luxo! Então a gente segue, sacudindo e ouvindo por tabela, o papo daqueles caras que se acham malandros, repetitivos em suas falas de “TÁ LIGADO?!”
Finalmente minha hora de partir. Até que na minha estação tudo já estava mais ou menos tranquilo. Parto em direção a terceira condução, em Madureira, famosa pelos seus camelódromos. De repente, gritos e correria – É O RAPA!!! É O RAPA!!! Meu ônibus chega. Depois de algum tempo, com sorte consigo um lugar. Retiro meus instrumentos de trabalho enquanto aprendiz de cronista, e começo a escrever...
Cheguei aqui, na verdade bem onde queria tocar: como se não bastasse o professor, em muitos momentos assumir papéis de médico, enfermeiro, psicólogo, pai, mãe, advogado, artista, malabarista e tudo o mais, agora ele também precisa assumir o papel de pedreiro e pintor.
Que fique aqui muito claro que no caso da nossa escola, a pintura das salas não foi imposição de ninguém, mas sim uma solicitação do próprio grupo de professores. Por quê?
Talvez porque nos cansamos de esperar pela prefeitura; ou ainda porque não queríamos iniciar o ano letivo com as salas do jeito que estavam; talvez porque acreditamos que tanto nós, como nossos alunos, mereçam pelo menos o respeito de um lugar decente para as trocas nas aulas...
Sabemos que muitos de nossos colegas nos dirão: “Vocês são bobos! Tinham era que deixar do jeito que estava! Isso é trabalho da prefeitura!!!” Mas não temos medo de parecermos bobos. Nosso único medo é o de passar um ano sem estímulo dentro de uma sala em que se nem nós temos prazer, que dirá a criança.
Foi um dia em que pintamos o sete, esquecendo nossas alergias, nossa falta de habilidade para o trabalho de artista e até mesmo a indignação de saber que a prefeitura não está mesmo nem aí. Mas o resultado, ah o resultado (!), foram salinhas com um jeitinho todo nosso, onde teremos prazer para mais um ano letivo.
No final de tudo isso, chegando em casa e, ainda sentindo o desconforto passando pelo corpo, me perguntei se um dia desses era para rir ou para chorar. Preferi rir, mas não da piada que fazem com a educação no Brasil, pois esta não tem a menor graça.



Vejam bem se tínhamos ou não razão? Tem condições de ser feliz numa sala assim???



Definitivamente, não merecíamos isso em 2010!!!




Que professor consegue? Que aluno consegue? Talvez o prefeito consiga, quem sabe?!



Dani e Jaque nos retoques. Valeu, meninas!!!



Nossa eterna contadora de histórias colocando a mão na massa. Valeu, Taninha!



Ao professor Glayson, que nos orientou na pintura, nossa gratidão.



Dani, Tati e Jana pintando o sete na sala... Valeu, meninas!!!




Caramba! Como dói o braço!!!



Manu na sua contribuição. Valeu, garota!!!



Apesar da rinite alérgica, eu gostei de raspar a parede.




Raquelzinha não podia colocar a mão na massa, então colocou a mão nos trabalhos manuais. Valeu, menina!



Rê, Jaque, Taninha e eu. E era só a metade do trabalho...



E o trabalho não foi realizado num dia só... Eu e Rê pintando o sete!



Dinah, entre um trabalho e outro, fotografando tudo.




Agora é só comparar e dizer se valeu ou não a pena!




Nossa, muito gracinha! Assim o professor tem mais estímulo! Que venha 2010!!!




O mural feito pela Hildinha e pela Tati. Que gracinha!!!



É assim que queremos o nosso 2010, porque, como diz Caetano: GENTE É PRA BRILHAR!

Agora é pra valer! O ano começou!!!

Acabou o Carnaval, e enfim o ano começa (rs)
Para nos lembrar que romper paradigmas é essencial para avançarmos, trago Fernando Pessoa:

"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas já usadas, que já têm a forma do nosso corpo e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia,e se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos".



Com o desejo de que possamos nos abrir para novas ideias, novos caminhos e novas propostas, deixo aqui o meu carinho.

Um excelente retorno a todos!

UNIÃO.




Seremos muito mais se nos permanecermos JUNTOS!

EU NÃO SOU VOCÊ, VOCÊ NÃO É EU - MADALENA FREIRE




Agradecendo a minha orientadora Hilda Santos pela partilha do maravilhoso texto EU NÃO SOU VOCÊ, VOCÊ NÃO É EU, de Madalena Freire, deixo para vocês as muitas reflexões que essa leitura proporciona.


EU NÃO SOU VOCÊ, VOCÊ NÃO É EU

Eu não sou você
Você não é eu
Mas sei muito bem de mim
Vivendo com você.
E você, sabe muito de você vivendo comigo?
Eu não sou você
Você não é eu.
Mas encontrei comigo e me vi
Enquanto olhava pra você
Na sua, minha insegurança
Na sua, minha desconfiança
Na sua, minha competição
Na sua, minha birra infantil
Na sua, minha omissão
Na sua, minha firmeza
Na sua, minha impaciência
Na sua, minha prepotência
Na sua, minha fragilidade doce
Na sua, minha mudez aterrorizada
E você se encontrou e se viu, enquanto olhava pra mim?
Eu não sou você
Você não é eu.
Mas foi vivendo minha solidão
Que conversei com você
E você, conversou comigo na sua solidão?
Ou fugiu dela, de mim e de você?
Eu não sou você
Você não é eu
Mas sou mais eu, quando consigo lhe ver.
Porque você me reflete
No que eu ainda sou
No que já sou e
No que quero vir a ser…
Eu não sou você
Você não é eu
Mas somos um grupo, enquanto somos capazes
de, diferenciadamente,
eu ser eu, vivendo com você e
você ser você, vivendo comigo.
( Madalena Freire)

A PAIXÃO DE CONHECER O MUNDO

Há meses tinha separado alguns materiais que considerava essenciais para a nossa partilha, mas estava sempre naquela sórdida desculpinha da “falta de tempo”... Num final de semana em que fui forçada a aquietar o corpo em casa por estar com uma infecção na garganta, quis tornar meu tempo útil e fui mexer nos meus papéis. Eis que dei de cara com muitas anotações do maravilhoso livro A PAIXÃO DE CONHECER O MUNDO, da Madalena Freire, filha do renomado educador Paulo Freire.
Fica aqui a indicação dessa leitura, que é mesmo algo apaixonante.



A paixão de conhecer o mundo: relatos de uma professora

Madalena Freire
São Paulo: Editora Paz e Terra, 2003.
Publicado em 1983, este livro está em sua 16ª edição. Este é um testemunho de quanto o seu conteúdo se mantêm conectado ao pensamento contemporâneo. De forma viva e amorosa Madalena relata sua prática na Educação Infantil, trazendo suas reflexões e as das crianças. Desenhos, textos coletivos, histórias, "lições", contam a processualidade movente de ser educadora. Segundo a autora, os dois primeiros relatórios "retratam uma prática ainda presa a uma visão menos dinâmica, talvez mais fria, em que a preocupação maior estava em mencionar o eixo do trabalho, seus objetivos, etc." A vida "pouco tropeça neles". Mas o fluxo da inquietude, da curiosidade, do desejo de compreender o próprio processo de ensinar e aprender impulsionou Madalena para ações que ressoam em seus relatórios.
Considerando o ato de conhecer tão vital como comer ou dormir, Madalena revela em ações a sua indignação com aquela escola que acredita que o conhecimento pode ser doado. Suas ações, relevadas também pelas produções e vozes das crianças, descancaram que "a busca de conhecimento não é a preparação nada, e sim VIDA, aqui e agora. E é esta a vida que precisa ser resgatada pela escola."
A paixão de conhecer o mundo levou Madalena para lidar com crianças de classes populares em Vila Helena e para a criação dos grupos de reflexão, do qual se origina o Espaço Pedagógico. Este livro deixa entrever a educadora em princípio de carreira, lidando com o coração da educação que a mantêm hoje com a mesma paixão de ensinar e aprender, e com a mesma amorosidade ofertada aos que com ela convivem neste processo.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Entrevista cedida pela revista Pátio - Ed. Artes Médicas - Howard Gardner

“Não deveria valer apenas a nota tirada na prova de matemática, mas o respeito pelo outro e o tipo de ser humano que nos revelamos”
Howard Gardner





Howard Gardner é professor de Educação e co-diretor do Projeto Zero, no Harvard Graduate School of Education, e professor adjunto de Neurologia na Boston University School of Medicine. É autor de inúmeros livros, incluindo "Estruturas da Mente", "A Criança Pré-Escolar: como pensa e como a escola pode ensiná-la" e, mais recentemente, "Mentes que Criam". Em 1981, Gardner recebeu o Mac Arthur Prize Fellowship e, em 1990, tornou-se o primeiro americano a receber o Louisville Grawemeyer Award in Education.

Pátio – Seu livro Inteligências Múltiplas: A teoria na prática, publicado pela Artes Médicas em português, atraiu o interesse de muitos educadores brasileiros. Na sua opinião, qual seria a razão para este sucesso?

Howard Gardner – Não posso falar especificamente sobre o Brasil. A teoria das IM (Inteligências Múltiplas) tornou-se popular em muitos países porque proporciona apoio para um fato que a maioria dos professores (e a maioria dos pais) sabe: as crianças têm mentes muito diferentes umas das outras, elas possuem forças e fraquezas diferentes, e é um erro pensar que existe uma única inteligência, em termos da qual todas as crianças podem ser comparadas. Muitos programas educacionais têm sido baseados na teoria, e esses programas contém inovações promissoras no currículo, na pedagogia, na avaliação e no uso de recursos fora do prédio da escola.
Pátio – O senhor não tem medo de que seu trabalho de pesquisa possa ser visto como uma nova panacéia, já que o público está sempre ávido por novidades?

Gardner – Evidentemente, não posso ser responsável pelo uso que as pessoas dão às minhas idéias. Espero que esses usos sejam responsáveis. Recentemente, comecei a escrever artigos que salientam algumas concepções errôneas. Por exemplo, criar sete ou oito testes, um para cada inteligência, é muito arriscado – pode repetir o mesmo tipo de rotulação que ocorreu nos testes únicos de inteligência.

Pátio – Que nova visão da educação a teoria das Inteligências Múltiplas nos daria?

Gardner – A implicação educacional mais importante das teorias das IM é esta: todos nós temos tipos diferentes de mente, e o bom professor tenta se dirigir à mente de cada criança da forma mais direta e pessoal possível. Se os professores têm uma turma de alunos muito grande, é difícil fazer isso. Mas se o foco começa no jardim de infância, e se os pais (e mais tarde as crianças) entram no esquema, torna-se possível um tipo de educação mais personalizado. Atualmente estou escrevendo um livro em que demonstrarei como tópicos importantes – como a teoria da evolução e o Holocausto – podem ser ensinados, de modo que as crianças com diferentes perfis intelectuais compreendam as idéias básicas.
Pátio – Fale-nos um pouco sobre o Projeto Zero da Harvard e sobre o trabalho de pesquisa que começou a ser desenvolvido lá.

Gardner – O Projeto Zero da Harvard, iniciado por Nelson Goodman e co-dirigido por David Perkins, realiza pesquisas básicas sobre cognição, aprendizagem e artes há 30 anos. Atualmente, estamos envolvidos numa variedade de projetos – incluindo um estudo sobre se as pessoas podem ser criativas e também responsáveis; o treinamento do automonitoramento na aprendizagem; se a aprendizagem artística "se transfere" para outras disciplinas nas escolas; uma revisão das escolas que ensinam para as inteligências múltiplas. Estamos no negócio de criar novas idéias e ver se elas podem ser colocadas em prática – nas escolas, nos museus e em outros ambientes educacionais.

Pátio – Que resultados sua pesquisa colheu após as mudanças ocorridas na prática pedagógica decorrentes da utilização de sua teoria nas escolas?

Gardner – A pesquisa sobre as inteligências múltiplas ainda está em seu período de bebê. Mas posso dizer, com certa confiança, que tanto os alunos quanto os professores passam a refletir mais sobre sua aprendizagem; mais crianças sentem que suas forças pessoais estão sendo reconhecidas; pais e alunos têm mais enfoques e questões a discutir; os alunos fazem projetos que são efetivos e aprendem a se apresentar convincentemente em público. Entretanto, estes resultados felizes e positivos não acontecem automaticamente: os professores precisam trabalhar de modo perseverante por alguns anos para dominar as idéias e coloca-las em prática, sempre refletindo sobre aquilo que está funcionando bem e aquilo que não está.

Pátio – Na teoria das Inteligências Múltiplas, como é feita a avaliação pedagógica?

Gardner – Conforme mencionado anteriormente, não estou muito interessado em determinar quais são os objetivos da aprendizagem – os papéis a serem atingidos, as habilidades a serem dominadas, os desempenhos a serem buscados. Isso seria avaliado, então, da maneira mais direta possível, e não através de testes de respostas curtas, avaliados por uma máquina. Se você quer saber se alguém é capaz de escrever um editorial efetivo, ou executar um experimento, deve fazer com que as pessoas realizem essas tarefas. E se você quer saber se os professores são capazes de ajudar os alunos nessas atividades, observe os alunos trabalhando sob a supervisão dos professores e examine o trabalho dos alunos e o feedback que recebem.
Pátio – Considerando a teoria das Inteligências Múltiplas, qual seria o maior desafio para a educação? E qual seria o papel do professor?

Gardner – O maior desafio é conhecer cada criança como ela realmente é, saber o que ela é capaz de fazer e centrar a educação nas capacidades, forças e interesses dessa criança. O professor é um antropólogo, que observa a criança cuidadosamente, e um orientador, que ajuda a criança a atingir os objetivos que a escola – ou o distrito, ou a nação – estabeleceu.

Pátio – Como os sistemas de comunicação, que são cada vez mais rápidos, interferem na educação e na inteligência?

Gardner – Os sistemas de comunicação cada vez mais rápidos não são bons nem maus em si mesmos – não mais do que o rádio ou o telefone são inerentemente bons ou maus. O risco é que receberemos tantas mensagens, tão rapidamente, com tão pouco controle de qualidade, que não poderemos nos sentar calmamente e avaliar o que é importante, a que devemos prestar atenção e o que devemos ignorar. Mas sempre nos resta o poder de desligar a máquina.

Pátio – Na sua opinião, quais são as perspectivas para a educação no próxima século?

Gardner – As constantes em educação são ajudar o indivíduo a compreender seu mundo, a ser capaz de lidar com a mudança e a ser humano cívico. Como fazer essas mudanças é algo que muda em certos aspectos, mas continua constante em outros. Uma vez que existe tanto a aprender, precisamos ser mais seletivos e estratégicos, e precisamos ajudar os indivíduos a continuar aprendendo depois que saem da escola.
Pátio – Como a criatividade emerge durante o desenvolvimento do ser humano?

Gardner – Todo indivíduo tem o potencial para ser criativo. Mas as pessoas só serão criativas se quiserem ser – se estiverem dispostas a contestar a ortodoxia, a aceitar as críticas, a não se pertubar com ataques ou insultos.

Minha contribuição a respeito deste assunto é dupla: 1) ao invés de ver a criatividade como uma propriedade geral, vejo os indivíduos como criativos ou não-criativos em domínios específicos, que geralmente mapeiam a inteligência; 2) como Csikszentmihalyi, vejo a criatividade como envolvendo não apenas mentes humanas, mas também domínios em que os indivíduos trabalham, e campos que realizam julgamentos sobre a qualidade e a novidade do trabalho.

Pátio – Como as inteligências se desenvolvem na velhice?

Gardner – Enquanto o indivíduo não ficar senil, ele pode continuar a desenvolver inteligência. Precisamos praticar, enfrentar novos desafios, refletir sobre aquilo que aprendemos. Provavelmente, algumas inteligências (como as pessoais) continuam a se desenvolver muito naturalmente durante toda a vida; outras, como a lógico-matemática, habitualmente se atrofiam, a menos que a pessoa tenha um foco específico.

Pátio – O livro de Daniel Goleman (Inteligência Emocional) também fez muito sucesso entre os educadores brasileiros. Nesse livro, ele enfatiza que os sentimentos não eram considerados nos antigos testes de QI e aponta uma nova maneira de se pesquisar nessa área. Entretanto, as proposições de Goleman se aproximam dos manuais de auto-ajuda. Qual é a relação da sua proposta com a de Goleman?

Gardner – Gosto do livro de Daniel Goleman. Sua discussão da inteligência emocional é similar à minha discussão das inteligências interpessoal e intrapessoal. Minha única crítica – à qual você alude – é que Daniel tende a fundir o descritivo (o que as inteligências são) com o prescritivo (como são os seres humanos). Da minha perspectiva, as inteligências são amorais – tanto Goethe quanto Goebbels eram mestres da língua alemã, mas Goebbels usou isso para fomentar o ódio.

Pátio – A década de 90 está sendo caracterizada como a "década do cérebro". Nunca foi feita tanta pesquisa sobre a inteligência artificial. Seria possível construir um computador que fosse um réplica mecânica das sete inteligências humanas?

Gardner – Algumas inteligências são bem mais fáceis de simular no computador do que outras. Aspectos das inteligências musical e lingüística são facilmente simulados. As inteligências pessoal e corporal seriam mais difíceis. Recentemente acrescentei duas novas inteligências – a naturalista (entender o mundo da natureza) e a existencial (fazer perguntas básicas sobre a vida, a morte, o universo). Seria difícil para um computador simular a inteligência existencial.

.../

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Atenção!!!

Para quem fez o concurso mais recente para magistério da prefeitura do Rio de Janeiro, é bom dar uma conferida no D.O. do dia 08/02, pois houve convocação. Lembrem-se: quem faz o concurso deve ser o maior interessado. Acompanhem!!!

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Volta às aulas, o que fazer no primeiro dia?

Oi gente. Estava por aí visitando uma comunidade sobre educação e dei de cara com essa pergunta,feita por professores do Fundamental II. Comecei a ler as sugestões. Umas, bem bacanas; outras, respondidas de um jeito que me fez questionar aquela velha história da falácia: muito se fala, pouco se faz. O discurso de professor como detentor do saber sempre me incomodou muito, além daquelas histórias das "ameaças" dos pontos que serão tirados e mais,mais,mais. Coloquei uma resposta respondendo ao tópico e estou partilhando com vocês.

Gostaria de sugerir
Olá pessoal. Bem, não sou do mesmo segmento de vocês, mas ainda assim quero deixar minhas contribuições de partilha.

Antes de sermos professores, temos que lembrar que fomos ( e ainda somos) alunos, não é mesmo? Vamos nos remeter ao tempo em que alguns dos nossos professores chegavam à sala e falavam, falavam e na verdade não nos diziam NADA. Será que queremos repetir isso: a ideia de chegar numa sala de aula ditanto regras, dizendo datas de avaliação e se colocando como detentor do saber? Acredito que não. Então, penso que o mais viável é sim uma boa conversa. Não com o alunos somente como ouvintes. Eles têm muito a nos dizer.
A ideia de dinâmicas e construção de regras onde eles mesmos as estabeleçam, é fundamental. Não dá para falar de democracia quando já se chega com regras estabelecidas. O que for feito por eles, deverá estar exposto na sala como um contrato que foi fundamentado entre vocês, que outros professores poderão usar também. Proponham que eles mesmos estabeleçam os direitos que serão perdidos em caso do não cumprimento das regras. E façam valer o que ficou estabelecido sempre.
Quanto as dinâmicas , como vocês são muitos numa mesma semana, seria necessário organizar isso aí, para as coisas não ficarem repetidas. Imagina só se na mesma semana todos os professores resolverem fazer só dinâmicas?! Eles vão se desinteressar.
Já postaram várias coisas bacanas aqui: a música, um texto interessante, as dinâmicas, poesias. Outra ideia boa seria a de trabalhar com o teatro. Gente, essas crianças adoram (ainda que muitas tentem fazer parecer o contrário) trabalhar com expressões corporais. Pode-se pedir que as crianças se apresentem com expressões corporais, deixando que as outras tentem adivinhar o nome; que cantem o seu nome num ritmo que goste, pode-se levar uma matéria de jornal interessante para promover um debate e a interação entre todos...
Desejo um ótimo retorno a todos!

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Grade de horários - planejamento

Vamos lá, pessoal! Para quem ainda está naquele ritmo do "não sei como fazer", segue aí uma sugestão para montar o planejamento, claro que adequando à sua realidade.

Para o primeiro dia de aula.

Encontro inicial, reconhecimento do espaço escolar, dinâmica de apresentação de amigos, professores e outros funcionários da escola.
Escrita do nome de maneira divertida.

Linguagem

Produção das regras que nortearão a convivência do grupo. O que é bacana, o que não é bacana. ( REGRAS DE BOA CONVIVÊNCIA).
Criar um código para situações positivas e situações negativas.
Escrever as regras em cartaz para expor no mural. Cada aluno assina a folha do “ Eu estou sabendo”.

O que é bacana:
* Cumprimentar colegas, professores e demais funcionários;
*chegar às aulas na hora certa;
*pedir licença para passar;
* realizar as atividades propostas com capricho;
* ser cuidadoso com o material individual e coletivo;
*agradecer quando alguém fizer algo para você;
*pedir “por favor” quando quiser algo;
*pedir desculpas ao perceber que agiu errado com alguém;
*assumir as coisas que faz;
*Dialogar com os colegas e evitar confusões.

O que não é bacana:
*Cuidar da vida dos outros;
*Fazer fofocas da vida das pessoas;
*Conversar durante as atividades;
Colocar apelidos que possam magoar as pessoas;
* Rabiscar paredes e carteiras da escola;
*Jogar lixo no chão;
*Ser descuidado com o material de uso coletivo e individual; (…)

História
Você sabe a sua história de vida? Conte-a para os colegas. Escreva-a como conseguir.

Matemática

Onde usamos os números?
Solicitar que tragam caixinhas de palitos de fósforos vazias, até quinta-feira. Vamos montar um material de contagem.

Borboletando com reflexões.

Um velho índio descreveu certa vez seus conflitos internos: "Dentro de
mim existem dois cachorros. Um deles é cruel e mau, o outro é muito
bom e dócil. Os dois estão sempre brigando."
Quando então lhe perguntaram qual dos dois cachorros ganharia a briga,
o sábio índio parou, refletiu e respondeu: "Aquele que eu alimentar."
(Sabedoria oriental)

Indicando...

Olá pessoal. Hoje entrei no blog da Marina Spirandelli e achei MARAVILHOSO. Com textos sobre consumismo, preservação do planeta Terra, consciência ecológica etc, Marina vai nos dando uma lição de vida. Vale a pena! Segue o endereço: http://vemosoquesomos.org/

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

EXCELENTE RETORNO ESCOLAR!

Um período para um merecido descanso e o blog entrou de férias junto comigo. Ainda que num ritmo um tanto quanto preguiçoso, hoje estou de volta às atividades continuando a partilha de conhecimentos. No coração, somente o desejo de que possamos ter um excelente ano letivo e de que Deus nos guie no caminho do aprimoramento sempre. Um 2010 recheado de MARAVILHAS para todos que se doam à EDUCAÇÃO com o compromisso e a esperança de um futuro melhor.




Você tem papel e lápis nas mãos... Faça de seu retorno à sala de aula um desenho colorido, cheio de brilho. Entre nele e descortine as novidades que 2010 trará para você. Excelente retorno!!!